O sol desponta no horizonte vestido de ouro tingindo de nuances douradas o véu da manhã... ,
trazendo em si a luz da vida que oferta ao mundo na aurora do dia!
Pássaros alvissareiros anunciam sua chegada com cantos de louvor...
O mar mais uma vez se levanta com suas madeixas onduladas cintilando os reflexos do sol, para beijar a face de sua branca e amada gueixa, que enfeita com guirlandas de espuma e sal...
Enquanto ele desperta um lado do mundo enchendo os corações palpitantes de esperança...
Eu nascendo do lado oposto
no rastro do sol poente que a noite abraça, me ergo vestida de prata com manto salpicado de estrelas...
, trago em mim o aconchego, a magia das paixões e o encantamento dos sonhos..., que também sonho...
O desejo flamejante de amor... , que também desejo!
E dia após noite,
noite após dia...
nesta infindável transição, entre a luz e a escuridão, minha doce utopia se traduz no querer-te, ver-te, sentir-te e ter-te...
Colar em ti num abraço apertado... Sentir-me sol...
e fazer-te lua...
Entregar-te o meu ser e receber o teu... Encobrir-nos com o manto escuro de um terno e raro momento, para dar-te assim um beijo meu e receber o teu, na mais profunda, intrínseca e poética escuridão de nós dois... ,
numa doce intimidade, longe dos curiosos
E em estado inquietante perguntei ao meu senhor num intróito suplicante:
- Porque a nós foi apenas permitido trocar olhares distantes...,
se o amor que nos alimenta o ser é tão grande?
E ele a mim respondeu:
- Tudo tem uma finalidade, um propósito e um por que... O amor que vos alimenta as entranhas e os faz emitir brilho e calor, só se torna possível, intenso e eterno pela chama do desejo,
se realizado ele for, ela não mais existirá, se apagará e com isso não mais existirão dias radiantes banhados de ouro,
nem noites resplandecentes banhadas de prata...
Porém como a todos beneficiam e iluminam sem distinção, com desvelo e pura compaixão..., abrirei uma exceção, um interstício, lhes proporcionarei um breve e raro momento, de tempo em tempo... , um alento, um pequeno combustível e sagrado alimento para o vosso amor... A esta dádiva nomearei “eclipse”!
Eu vos porei frente a frente para que por alguns minutos somente possam doar-se mutuamente como substância essencial para as vossas vidas enquanto durem... , lhes darei o fôlego divino...
E assim, num momento mágico de reconhecimento e compaixão nos unimos no sonhado e apertado abraço,
dançamos nos salões do espaço uma valsa a meia luz.
Senti-me sol... ,
e você lua... ,
quando um beijo caloroso,
terno e amoroso se fez sob o véu da escuridão, pois que a chama do desejo por minutos se desfez e nós embriagados de amor pelo encantamento do milagroso momento brilhávamos apenas por dentro, como se um coração palpitante, delirante..., extasiante..., batesse descontroladamente num compasso alucinante transformando em magnífica e transcendental melodia o nosso pouco tempo restante...
A terra parou para observar nosso encontro,
olhares admirados, amedrontados e fixos
esperavam o momento em que voltaríamos a ser novamente astros separados,
seguindo nossas rotas e destinos...
mesmo que solitários...!
O eclipse se desfez suavemente, e o sonho mesmo que realizado, deixava agora um vazio e um desejo fermentado pela lembrança do beijo intenso e apaixonado com sabor de sol e lua, pimenta...
e mel... ,
trocado durante um abraço apertado... , numa valsa encantada...
bailada sobre o teto do céu salpicado de estrelas... , ainda que encabuladas...