domingo, 31 de outubro de 2010

EU A CANOA E O RIO...

                       As vezes a vida nos põe em estado de observância, como se estivéssemos estagnados perante ela, numa espécie de prisão interior, como se o exterior se negasse em parte, ou apenas se deixasse ver, de forma a não ser experimentado.
                     Assim me sinto, como que vagando..., sem o controle dos remos, sobre uma canoa que corre solta pela correnteza do rio. Sem poder exercer minha vontade, vou deslizando por sua vastidão..., cheia de
curvas sem fim...





 Alí de minha canoa, observo a paisagem e a movimentação dos lugares junto as margens, os quais para mim, apenas passam... Posso ver as pessoas experimentando, vivendo suas dádivas, no seu cotidiano repleto de movimentação e possibilidades, de certo modo, me sinto feliz por elas, e espero que possam valorizar seus momentos, vivê-los com alegria, prazer e sabedoria...
                  



           Me pego numa auto- inquisição, são tantas as perguntas que me faço, que na ânsia de encontrar as respostas, continuo perdida das veredas de minh'alma..., enquanto meu coração grita por liberdade e entendimento, minha consciência tenta acalmar as emoções que saltam dos sentimentos em aparente desordem... 




O rio corre calmo, a canoa desliza sobre ele, o tempo paresse não ter pressa, e eu, olhando a vida por uma espécie de vitrine, me pergunto porque! Onde estão escondidos meus erros, que meus olhos velados pelo egoísmo ou orgulho, náo conseguem ver! Onde está o veneno que instilei sobre as veias de minha vida, se não sinto o gosto amargo na língüa, mas seu efeito devastador domina minhas articulações, meus músculos, minha carne, ceifando minha alegria aos poucos, apagando o brilho dos meus olhos..., nublando minha visão.
                      


            


                 Tento não dar asas ao desespero e empurrar o medo para fora da canoa, que inabalável..., parece apenas gozar de sua liberdade.., nada a afeta , flutua trânqüila, amparada pelas águas do rio, protegida por suas longas margens e envolvida pelo azul celeste dos céus, apenas, deixá- se levar..., sem nada questionar, temer ou cobrar.
                     





                  Procuro não me perder do senso de obesrvação, pois sinto- me direcionada para uma espécie de desembocadura, como se houvesse uma precipitação de meu rio interior, para um grande salto de liberdade...
                    



                      Foco minha atenção, no que se passa além das margens do rio, as pessoas continuam lá, sempre envolvidas com suas atividades...; observando melhor, agora posso sentir, que se movimentam como por impulso, um impulso condicionado pela necessidade de algo, que parece nunca estar satisfeito..., e não vejo em seus olhos, quando passam ligeiros e distantes pelos meus, parecendo nem me ver; a paz e a tranqüilidade, a segurança e a alegria que eu imaginava alí encontrar.
                  



                De súbito, uma luz se fez em minha mente, e comecei a perceber por que havia sido posta na canoa; minha condição de abandono, angustiante e íntimamente negativa, derrepente, soou- me como dádiva, um convite ao entendimento..., um encontro íntimo com a sabedoria interior, uma forma muito especial e particular de receber atenção, amor...; olhei para a canoa, e pude sentir a segurança que ela sentia, e compreender o que ela com seu comportamento confiante, tentava me passar, dentro de suas limitadas possibilidades de comunicação; entendi, que a ação confiante e calada, não necessita de palavras para exaltar os dons da vida...
                  





                        E que não nos basta ter tudo, para sermos felizes, pois que, as coisas materiais em si, a segurança, possibilidades e facilidades que o dinheiro nos traz, não são suficientes para nos dar a paz interior e a verdadeira felicidade, pois que este estado de seguridade ou consciência, é natural..., e tem de ser independente de qualquer coisa externa, para ser real,duradouro..., pois se, dependesse só do material, sendo a vida inconstante e surpreendente como é, ficando sem ele, perdemos também nossa felicidade ?
Então ela estaria intrínsicamente ligada ao poder material ? E a essência do ser, sendo ela nosso gerador de energia, perderia sua importância vital, fundamental ? Como ? Se é dessa energia essêncial que precisamos para fortificar em nosso âmago a felicidade que transcende a todas as coisas.
                    


              Por isso, a vida, as vezes, inesperadamente, nos toma certas coisas as quais damos valor exacerbado, para mostrar- nos que podemos viver sem elas, e ainda sermos felizes..., passando a valorizar coisas mais simples e verdadeiramente necessárias como o amor..., a solicitude, o carinho, o sorriso sincero, o amparo amigo, a confiança, o respeito..., essas coisas que dinheiro algum pode comprar, mas que conquistamos através de nossas ações baseadas nas verdades da vida e em seus legítimos valores.
                    


             Para alcançarmos esse tipo de visão, se faz necessário, pararmos e olharmos a vida, pelo ângulo da observação não condicionada. Quando Deus nos deixa em estado de inércia, nos obrigando a uma observação forçada, entramos em desespero, nos revoltamos, nos sentimos totalmente abandonados, humilhados, desamparados, sufocados..., mas com o tempo, passamos a entender que fomos feitos para sobreviver a tudo, a todas as intempéries; porém, desde que sejamos confiantes nele e em sua sabedoria, para o nosso próprio crescimento e libertação..., pode ter certeza.., o essêncial nunca deixará de ser suprido e Oxalá..., gozar da abundância, todavia sem jamais coloca´- la acima das coisas fundamentais, como também, nunca usá- la feito escada para o orgulho vazio, a vaidade desmedida, o poder esmagador e a empáfia cega.
                  
 Vestindo essa nova súbita visão, minha angústia transformou- se em entendimento, minha ansiedade em paciência, a sensação de abandono em seguridade e paz...
                    


               

                    Deitei- me no centro da canoa, relaxei meu corpo..., deixei- me envolver pela beleza da abóbada celeste, sentí- me aconchegada nos braços da vida e inaltecí minhal'ma..., confiei meu destino à sábia embarcação, e ao fluxo das águas do rio, não me preocupei mais com a boa ou má sorte, pois nunca saberemos a história toda... .
                   



                 O que verdadeiramente importa, é que, agora sei, que meu porto seguro está naquele que comanda as águas do rio, conduz a canoa e também minha vida..., e que só dele vem o sopro de liberdade que me impulsiona para a real felicidade... !




                                                                                                      Claudia Abreu

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